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Profissão Prostituta | Lifestyle #16






O Carnaval, principalmente no Brasil, é a época do ano em que "tudo é liberado", onde é permitido beijar na boca à vontade, transar como se não houvesse amanhã sem sequer perguntar o nome, perder a conta de quantas mulheres se "pegou" numa noitada, sempre com o aviso: use camisinha. Desde que o preservativo esteja na carteira, a permissividade é total, e até cultuada por alguns "comentaristas" de TV. 

E não, não sou contra nada disso. A vida é de cada um e você faz o que quiser dela.  

Mas algumas coisas são curiosas: no carnaval, homens se vangloriam de terem ficado com várias mulheres, de terem transado loucamente e levado para cama uma mulher com quem não tem a menor intenção de manter um relacionamento. A quarta-feira de cinzas é o dia oficial de contar aos amigos as "aventuras" do feriado: com quantas saiu, qual delas foi para a cama, como foi o sexo, se ficou ou não com o telefone de alguma, e por aí vai. Por que? Porque o sexo nesse caso é apenas um momento de diversão, serve apenas para relaxar, para se divertir, sem qualquer compromisso de relacionamento. Sexo e amor são coisas completamente diferentes, suprem necessidades diferentes no homem, e essa diferença fica muito explícita no carnaval - aliás, muitas coisas ficam explícitas no carnaval... 

Mas se essa mesma mulher, essa que aceitou transar sem qualquer compromisso com esse mesmo cara, que foi para a cama com um cara que sequer perguntou seu nome, e que usou seu próprio corpo para dar prazer a um desconhecido, resolvesse cobrar por isso, viraria uma "vagabunda", "mulher da vida", "puta", dentre outros vários adjetivos que se queira dar. 

É interessante: vivemos numa sociedade que se diz "evoluída", "aberta" e sem preconceitos, onde tudo é permitido e o que conta é a consciência de cada um no momento de escolher o que é o melhor ou não para si, mas se uma mulher resolve, de livre e espontânea vontade, sem a pressão de um "agenciador", usar o próprio corpo para proporcionar prazer e cobrar por isso, ela perde completamente qualquer status social que uma mulher "digna" possa ter. Por que? "Nossa, ela cobra por sexo". Tá, e daí? Ela está ganhando o dinheiro dela, sem prejudicar ninguém, honestamente - sim, honestamente - explorando uma necessidade humana: a necessidade de sexo. 

Todos nós, desde Alexandre Frota ao padre Fábio de Melo passando por Inri Cristo, temos desejo de sexo. Tesão é uma sensação humana (e tesão é nome científico, tá?) inerente ao nosso biológico, uma necessidade como outra qualquer. Sentimos vontade de rir, de viver aventuras e de transar. Temos os comediantes que nos fazem rir, parques e passeios que proporcionam aventuras, mas se uma profissional resolve proporcionar sexo vira uma vagabunda. Dizem até que a prostituição - nomezinho esse carregado de um estigma pejorativo horrível - é a profissão mais antiga do mundo. Sabe por que? Muito antes da necessidade de jogar vídeo game, de falar no celular, de ver TV, de ir ao cinema, temos vontade de fazer sexo. Sexo é uma necessidade básica. Mas se alguém resolve fazer disso um mercado a ser explorado, vira "puta". 

Sim, vivemos num mundo capitalista, onde se cria necessidades para se vender facilidades. Mas, curiosamente, a necessidade que não se cria, se nasce com ela, é exatamente a mais reprimida. A série O Negócio, exibida em 2013 pela HBO, mostrou na ficção o que existe na realidade: um mercado de desejo sexual a ser explorado, e mulheres inteligentes e bonitas querendo explorar esse nicho. O sexo, nesse sentido, vira um produto a ser vendido. Totalmente sem romantismo, não? Mas há algum crime nisso? 

O que estou tentando dizer - não sei se consegui ser claro, o tema é mais complexo do que se imagina - é que vivemos numa sociedade hipócrita, onde o sexo serve está presente em tudo (na propaganda, na TV, no comércio, nos esportes), mas se alguém resolve fazer uso profissional dele para viver é tachado de "imoral". Como assim, imoral num país onde o carnaval é recheado de conotação sexual do primeiro ao último dia? Como assim imoral num país que se orgulha de ter as mulheres mais bonitas do mundo? Meu amigo, imoral é usar da boa fé de inocentes para conseguir vida fácil, e se tem alguém que não tem vida fácil são as profissionais do sexo, ou as "acompanhantes", todos os dias expostas a homens machistas que as veem simplesmente como máquina de transar, que ignoram completamente a humanidade dessas moças e que as exploram como se fossem uma fruta em que se aproveita a polpa e joga o bagaço fora. Nesse sentido, vejo o trabalho das acompanhantes como uma reafirmação do valor feminino: uma mulher é muito mais do que um produto descartável. Quer usar sem se envolver? Pode ser, mas no mínimo terá que pagar por isso. 

Alguns vão argumentar que nem sempre o trabalho de uma acompanhante é glamuroso e cheio de lição como os que descrevi. E é verdade. Existem, sim, mulheres que vivem em regime quase escravo, sendo forçadas por um cafetão cruel a transarem com homens nojentos em troca de um tratamento dentário ou de um café da manhã nos interiores do Brasil. Existem adolescentes que mal menstruam e já entram no submundo da exploração sexual. Sim, isso existe, é crime e deve ser combatido. O que não dá é pra comparar a exploração sexual com o trabalho de moças que optam, por livre vontade, por trabalhar com o sexo. São coisas totalmente diferentes. 

Existe também toda uma visão romantizada do sexo, uma visão religiosa que o vê como complemento do amor. E acredito nisso também. Não há amor sem sexo, mas há sim sexo sem amor. São coisas diferentes. Se você tem alguém que ama, com quem compartilha sua vida, irá desejá-la e querer transar com ela. Se não tem, irá querer satisfazer sua necessidade de sexo do mesmo jeito. Que seja então com alguém que está lá apenas para isso, que tem a cabeça aberta o suficiente pra entender sua necessidade, assim você não cria expectativas em ninguém, nem machuca o coração de ninguém. Quer amor? Encontre uma companheira. Quer sexo? As acompanhantes estão aí pra isso. Só tem uma coisa: tanto a companheira como a acompanhante tem o mesmo direito de serem tratadas como mulheres, com o devido respeito à sua integridade. Difícil?

Mais amor, e mais sexo, por favor!

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